O Sábio e a Água – Conto Sufi

Cultura Espiritual, Para Refletir

Morava numa aldeia um homem que todos chamavam de Sábio. Ouviam seus conselhos, tomavam os remédios indicados por ele. Enfim: O Sábio.
Um dia o Sábio descobriu que as fontes de água da aldeia estavam contaminadas e seus venenos provocariam a doença da loucura.
Chamou todos da aldeia e comunicou:
– Vamos abrir outros poços de água em terras distantes da aldeia. Nossas fontes estão contaminadas.
E, ao ouvi-o:
– Porque em terras distantes? Vamos fazer novos poços aqui mesmo.
O Sábio respondeu:
– A terra contaminou as águas. Se abrirmos poços nesta terra a água brotará contaminada. Vamos a terras distantes fazer novas fontes. E, depois, vamos descontaminar a terra, assim as águas voltaram a fluir puras como antes.
Algumas pessoas foram às fontes experimentar a água.
O Sábio ficou triste.
Quem bebeu enlouqueceu passando a inverter as próprias prioridades, tornando-se frio e alheio a tudo.
Quem viu, entrou em desespero.
E todos resolveram fazer como havia recomendado o Sábio.
No terceiro dia, cansados, tiveram uma ideia. Acharam que o veneno já tinha desaparecido.
Afinal as águas da aldeia, sempre foram puras.
Alguns voltaram, beberam da água e enlouqueceram.
O Sábio ficou mais triste.
Os demais retornaram ao trabalho.
Começaram a ter ideias para apressar a construção das fontes: fazê-las mais rasas, afinal de contas as águas da aldeia seriam tratadas pelo Sábio.
Ouvindo, o Sábio foi a eles e disse:
– A fonte precisa ser profunda para não se contaminar com outros venenos da Terra.
Nossos Ancestrais tinham este conhecimento. Vocês, quando nasceram, já encontraram as fontes que eles deixaram como herança.
Todos ouviram e concluíram que os Ancestrais não conheciam a ciência moderna e que a fonte podia ser mais rasa. Assim fizeram. 
A metade sedenta atirou-se sobre a fonte para saciar sua enorme sede. Morreram imediatamente.
Os outros começaram a discutir: entre morrer e enlouquecer, seria melhor enlouquecer, “e não teremos que andar esta distância para buscar água”.
O Sábio ouviu e disse:
– Ninguém precisa mais enlouquecer ou morrer. Vocês fizeram a fonte muito rasa.
– Quem garante ? – Retrucaram.
– Eu garanto. Eu que sempre estive do lado de vocês nas suas doenças, tristezas, perdas…
Interromperam o Sábio dizendo:
– Sempre há o primeiro erro. E se você estiver errado agora?
Tanto sacrifício por nada…
E voltaram para a cidade.
O Sábio não foi com eles e concluiu sozinho a construção da fonte.
Como trabalhou sozinho, precisou de muitas dias para concluir. Se entregou ao trabalho sem parar … mas a tarefa era grande, imensa, para um único homem.
Assim que concluiu, correu para a aldeia levando consigo um pote de água. Tencionava bebê-la diante de todos. Porém, quando chegou, todos haviam enlouquecido.
O sábio inutilmente procurou entre eles alguém que ainda estivesse consciente, mas não encontrou e voltou para junto da fonte pretendendo estudar remédios para curar seus amigos.
No dia seguinte, avistou uma caravana com muitas pessoas caminhando em sua direção. Quando chegaram, um deles disse ao Sábio: 
– O Sábio da nossa aldeia estava muito velho e antes de morrer nos disse que seguíssemos nessa direção porque, com a sua morte, as águas das fontes da nossa aldeia se tornariam venenosas. No mesmo dia em que morreu, seguimos na direção orientada por ele. 
Ouvindo, o Sábio respondeu:
– Ele estava certo. Podem beber dessa água porque ela é pura.
O Sábio ficou com estes para orienta-los, curá-los e viver sua vida preocupada.
O viver de um sábio é permeado de preocupações e responsabilidades.
Lá ficou estudando, procurando um remédio que pudesse vir a curar as pessoas da sua aldeia.

Halu Gamashi

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