Os raios do sol permanecem
apesar do luar
Embora não seja o luar um pesar
Os raios de sol permanecem
Apesar da conspiração estelar
A lúgubre noite imponente e inoportuna
Que prolonga o meu assédio
Pelo dia que vai raiar
Os raios de sol adormecem
A longa escuridão noturna
Impondo a minha vontade
De não querer escurecer
A noite com sua fadiga de luz
Cansa a minha pele
E fertiliza o meu pensamento
Para rumos que eu não quero dar
Festejo a presença do raio solar
Que venha a noite
Caindo sobre mim
Sem me esmagar
Contendo-me em sonhos
Reprimindo-me em verdades
Que não quero escutar
Por mais ainda
Festejo o raio solar
Que venha a noite sabendo o que vai encontrar
Eu a resisto
Não adormeço na sua escuridão de matar
A oposição a noite é o fruto do que ela vai me fazer enxergar
E, apesar da minha oposição, além do raio solar, ela se põe
Colocando em minha oposição um fim
Torturando-me por não pensar em mim
Por querer que eu saiba o que esta para vir
Obrigando-me, pertinentemente, a ouvir
Os ruídos da treva
Na minha audição se diluir
A noite não tem segredos
É verdadeiramente clara
De verdade rara
Que o silencio faz encobrir
Esta noite severa e calma
Que desalenta e polui a minha alma
Com o seu fortuito intuito
De me fazer saber
Me quer a noite como discípulo
Desrespeitando o meu querer
Vejo a noite trovejar
Só os cegos não sabem que a noite troveja
Só os surdos discutem sobre o silencio da noite
Só os abutres sabem da carne noturna
Soturna
Embriagada de lucidez
Enquanto se vai o sol
A noite retira do silêncio
Um conhecimento de cada vez
Como há tão poucos a ouvi-la invade-me com a sua pandora
Perdida e esquecida
Por toda a multidão
E assim é a noite
Abre as suas estrelas na envergadura ilimitada do meu coração
Já não há o que discutir
A noite invadindo
Pereço nela
Uma parte de mim pertence a ela
Mas como demora esta parte de acordar
Ao contrário da noite
O meu anoitecer
Nasce devagar
O seu poente não é urgente
Fazendo-me fracassar
Declaro-me então a noite
Que seja ela
A soberana das próximas horas
Da próxima hora
Minha alma já sabe e não ignora
Que a sua presença é pertinente
Não importa o quanto enfraqueço
Se a minha consciência se fortalece
Abrindo-se como amante estendida aguardada e ungida
Pelos amores noturnos
Que não venha com a noite a chuva
Esta é a noite mais dolorosa
Molhada
Farta
E honrosa
Dos estigmas lunares
Que venha a noite com os ares
Os ares da escuridão
São como pequenos sóis
Encorajando o esperado amanhecer
E quando lá o meu corpo se erguer
minha mente e minha alma saberão o que fazer
Halu Gamashi
18h de 20.11.2008 às 18h
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