Morrendo de vida

Minha alma expande e meu corpo se torna uma veste pequena para ela, como uma roupa apertada que se esforça para conter sem êxito.
Como a peça de um quebra-cabeça meu corpo se encaixa na minha alma expandida
Como um ponto no centro de uma folha em branco descubro o peso que a alma sustenta quando carrega a matéria.
Eu me sinto criança deitada e acomodada na alma como uma alga flutuando no mar. Um leve balanço, minha alma cresce e meu corpo desaparece dentro dela.
O que quer minha alma alcançar?
Meu coração sorri alegre. Minha mente insiste em ser adulta, mas sabe que logo desistirá.
Há tanto espaço para brincar dentro da minha alma.
Eu posso ser, eu posso não ser.
Talvez seja por isso que lutamos tanto por um nome, por medo de sumir e desaparecer.
Agora sei que é impossível porque a alma dá um continente, um colo.
Posso brincar de sumir como uma criança brinca de se esconder.
Sentindo a alma maior que o meu corpo encontro outra definição de vida.
Não há o que temer.
Por outro lado,só se pode renunciar ao que se tem.
Começa-se sabendo que existe pelo que se tem.
Em um dado momento, descobre-se que tudo o que se tem substituiu muito mal o que verdadeiramente se é.
É com todo o prazer do mundo que desnudo e minha nudez me assemelha a todos os outros atores da natureza que se despiram para se encontrar.
A força e o calor da Luz derreteram as máscaras e é um imenso alívio vê-las derreterem em direção ao esgoto, auspício das máscaras onde nascem e morrem.
É maravilhosa a sensação do meu corpo acolhido pela minha alma invisível e tangível.
Nada é impossível!
E o que precisa ser visível eu já não tenho mais, derreteu no calor e na força da Luz.
E eu agora sou… eu.
Eu em Um com todos os nus que flutuam pela vida como uma alga no mar.

Halu Gamashi

22Mar20, 22h50, Lisboa/PT