As quatro dimensões do planeta Terra e os Orixás – Parte II
Conheci a cultura africana através de Mãe Helena, que acompanhei por três anos. Como já era uma senhora muito idosa, estive com ela nos seus três últimos anos de vida terrena.
Com a sua partida fui encaminhada a um pai negro, lindo. A única desconfiança que eu tinha com ele era sobre a sua idade. Ele era tão forte, tão vivo que aos quinze anos eu não conseguia acreditar nos oitenta anos que ele dizia ter. Comparava-o a outros velhinhos que conhecia…. Não, não podia ser!
Abri-me para entender que quando a vida brilha na alma o corpo não envelhece. Pai Damásio era assim, um homem jovem, forte, sábio, com oitenta anos de experiência. Infelizmente nesta época, em função da pouca idade e da força que a minha família exercia sobre mim, não pude aprender muito com ele. Ficou-me o testemunho de sua força e a revelação de que Mãe Helena havia vivido por mais de um século – outro susto!
Vida e tempo é muito diferente de tempo de vida.
Pai Damásio ria dos meus sustos e me apresentou a muitos “idosos” com tanto tempo de vida e com muita vida no tempo.
Aos dezenove anos conheci Pai Nelito. Um jovem de 67 anos, um garoto, quase um menino. Forte, dinâmico e branco. O primeiro Babalorixá de cor branca que eu conheci. Tinha uma história muito forte, toda a sua família o rejeitou quando se tornou um iniciado da cultura africana.
Neste momento da minha confissão aproveito para informar que nestes tempos era assim que nos referíamos a esta cultura: africana. A maioria daqueles que a cultuavam, nesse período, eram filhos e netos da senzala. E, na minha opinião, foi a primeira instituição africana a se estabelecer no Brasil.
Quando pensamos em senzala imediatamente a associamos a truculenta cultura branca, o que nos faz erroneamente acreditar que os negros que vieram para o Brasil não possuíam conhecimento, cultura e ciência. Toda esta falsa imagem é imposta pela truculência do colonizador branco. Até os dias de hoje, quando ouço “os intelectuais brancos” rotulando os orixás, o culto africano, como primitivo, na sua voz pejorativa… Até quando?
A ignorância é assim, arrogante, sanguinária, escravocrata de mentes e na minha sincera opinião a principal vítima desta arrogância é o homem branco e todos os demais que foram apartados de uma ciência inteligente. Conheci a cultura africana me estabeleci nela pelas mãos de filhos e netos da primeira instituição africana no Brasil, como já disse, a senzala, que também era uma escola onde os sábios trocavam conhecimento sobre a energia da natureza que conheciam.
Na África a depender da região, cultuava-se com mais intimidade e cumplicidade uma energia da natureza, um Orixá. Sobre esta energia e este orixá escolhido sabia-se mais, convivia-se mais.
A senzala misturou as regiões, a troca de informações fez o conhecimento, a intimidade e a cumplicidade ampliar a profundidade sobre todos os Orixás. Esta parte da historia da cultura africana aprendi com meu Pai Nelito.
Naquela época um homem branco conquistar o grau de Babalorixá precisava querer muito, precisava transformar querer em força para provar lealdade, respeito para receber “as chaves do cadeado”.
Era a minha vez, agora, de conquistar a licença para estas chaves.
Toda ciência oculta tem os seus segredos e este procedimento incomoda muita gente. O que os incomodados não sabem é que todo conhecimento, toda ciência, todo remédio, é uma arma na mão de irresponsáveis superficiais. A superficial irresponsabilidade não precisa de zelo para suas verdades. Esta foi a primeira chave que conquistei dos cadeados da cultura africana, compreender a necessidade de zelar do conhecimento, da sabedoria.
Com o passar do tempo e das gerações passei a ouvir a cultura africana ser transformada em cultura afro-brasileira, pela qual desenvolvi grande respeito, mas, na minha opinião, a cultura africana foi quem aprofundou na ciência energética…
Agora preciso parar, não completei o meu pensamento, mas preciso parar…
Halu Gamashi
Agosto de 2014
Conte mais. Gostaria muito de conhecer toda sua história. …..